sábado, fevereiro 19, 2005

Palavras

Sinto um aperto no coração. Pego na caneta e tento escrever... Tento traduzir em linguagem compreensível, o que não consigo perceber.
As palavras não saem... A folha permanece branca e tu escondido dentro dela. Tu e os outros todos. Tu e aqueles onde te procuro e te tento reinventar, a ti que és tudo o que quero. Fito a folha furiosamente, como se a culpasse da minha imaturidade. Gostava de poder escrever tudo o que sinto. Gostava de poder ter à vontade para não andar à deriva, gostava de te escrever uma carta de amor e gostava de te encontrar nalguma noite escura, num dos becos desta cidade cinzenta onde me escondo...
Tentei ser o que não era e sentir o que não sentia. Tentei ser mais forte do que sou. Tentei ser feliz onde só vislumbrava escuridão. Achei que conseguia... Achei que tinha todas as respostas, mas algo chegou e mudou-me todas as perguntas.
Agora onde as posso procurar? Em ti...? Como se é de ti que eu fujo cada vez que me aproximo? Tu não és real. Não posso procurar perguntas ou respostas num sonho ou numa fantasia... E ironicamente também não posso continuar neste vazio e labirinto, à procura de respostas às perguntas que não conheço... Agora mudei. Agora procuro as perguntas. Procuro as perguntas em ti... em mim... neles e no tempo. No tempo que me parece tão fugaz e sem sentido... No tempo, na prespectiva, na dúvida se não será a memória o ponto crucial do nosso ser, porque o momento simplesmente passa... Às vezes pergunto-me se realmente vivo. Quando estou sozinha na escuridão apaziguadora do meu quarto, pergunto-me se todas as memórias, se todos os momentos realmente existiram e que momentos irrefutáveis os seguirão... Na escuridão do meu quarto procuro as perguntas em orações, no meu coração e no tempo que não consigo agarrar. Tenho medo que todos os momentos passem e que chegue ao derradeiro que durará uma eternidade... Descobri que tenho medo de apagar ou de esquecer as minhas memórias, porque elas dão sentido ao presente e aos momentos e trazem a doce ou amarga expectativa do futuro, que me faz sempre continuar em frente...
A vida é tão irónica e tão fugaz. A vida não tem sentido. O presente não tem sentido. Porque no momento a seguir passa a ser passado... Não percebo.
Não encontro as palavras. Não há palavras para descrever o que eu não compreendo. Não há nenhuma linguagem matemática ou outra, capaz de traduzir toda a plenitude de um ou mais sentimentos humanos...
As palavras... tão fugazes. Às vezes acho que são as palavras que marcam realmente algo na sequência da vida louca que vivemos... Na vida suja e podre em que vivemos. Na decadência que nos precede, que apodrece os nossos gestos, que viola as nossas virtudes e que corrompe as nossas intenções. Na lasciva vontade desprovida de nobreza que nos move. Porque fazemos o que fazemos? Porque fazemos o errado se sabemos à partida que não resulta? Porque não nos arrependemos de o fazer...?
No outro dia pensei sobre as crianças e em como cada novo humano tem que reaprender o que os seus antepassados se esforçaram por perceber e descobrir e achei que se houvesse alguma forma de passar estes conhecimentos geneticamente, muita sabedoria estaria ainda hoje conservada... E perguntei-me porque não seria assim. E percebi. Originaliade. Autenticidade. Não poderiamos ser diferentes, ser únicos e distintos se não nos fosse dada a oportunidade de reaprender o que os nossos pais e avós já sabiam... É esta reaprendizagem que nos fornece a originalidade e a capacidade de inovar e de formar opiniões e ideais diferentes sobre o Mundo.
E esta é a escolha mais bonita e libertadora que nos foi dada, quando nos foi impingido o nascimento... Vale a pena viver. Vale a pena procurar as perguntas. Vale a pena tentar. Vale a pena errar. Vale a pena viver a fugacidade de cada momento para poder viver outro a seguir.
Vale a pena ficar deitada no escuro à deriva... Porque assim sei que ainda me resta o mistério... a descoberta, o momento a viver. Haverá algo mais poético que isso?
A oportunidade...
Esta é a minha. E eu vou vivê-la. E vou errar se assim for necessário. E vou aprender com isso. E vou voltar a errar. E vou voltar a aprender com isso... E algures no caminho hei-de encontrar a paz e o culminar de todos os momentos.
Se isto não faz sentido, não sei o que mais possa fazer...
Estas são as minhas palavras sem sentido. Palavras que se soltaram dos dedos e que formaram um texto confuso e emaralhado.
Não importa... Continuam a ser as minhas palavras.
Palavras...
Palavras...
Terão vocês o poder de ecoar? De ecoar na eternidade? De ecoar dentro do coração de alguém...? Estão a ecoar no meu! Conseguem ouvi-las...?
Chiuuu...
Silêncio... É lá que elas se escondem... Prontas para sair quando as soubermos escutar...
Chiu...
Silêncio.
Palavras.
Vida...

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Adormece

Adormece...
Deixa-te cair nesse leve estado em que pões a cabeça lentamente sobre a almofada, em que repousas de forma tímida sobre a esfera do mundo à tua volta, dormes agarrada para um lado, com a boca sobre a almofada...como se a beijasses de volta ao conforto que ela traz, pela sua textura macia que tu adoras, aos teus cabelos como uma pintura exposta sobre a cama.
Fecha os olhos agora e pensa em qualquer coisa, pensa e não penses muito, deixa-te a imaginação levar-te onde for que ela te leve, não racionalizes demasiado, não penses sobre o pensar, não queiras perder o sono a pensar na vida, quando a vida é feita sem pensar, sem lógica, é reacção,acção e direcção, é um estímulo que nos leva...é o impulso eléctrico da alma carregada do poder fulminante do amor.
Antes, faz com que a tua maneira de dormir seja o teu estado mais puro, sem que ninguém ou nada te possa incomodar, como uma fotografia sem acção, só a sensação leve de alguém a voar em sonhos...
Adormece por favor para que eu possa rápido ir sonhar contigo também, para que nada se interponha entre nós, para eu poder encostar a minha cabeça à almofada e pensar em ti, como nunca pensei antes, como só tu me podias levar a pensar, estende a mão enquanto dormes sem teres noção, estende o braço bem no ar, finge que me tocas nem que seja só para eu sentir que estás aí...e eu vou de olhos fechados abrir os meus braços, vou sorrir sem saber que estou a sorrir, sorrir-te e agradecer que tenhas vindo ter comigo hoje, ontem ou amanhã...
Vou tocar a ponta do teu dedo com a ponta do meu, como se bastasse só isso e mais nada para te poder tocar em todos os lados, como se aquela extensão fosse o teu todo e o meu dedo, fosse eu na totalidade, só tu e eu, mais nada...puro vazio de ausência corporal...estados superiores e sentimentos puros...consegues sentir?
Deito-me e espero, como se a cama fosse um casaco de forças que me prende e não me deixa adormecer, dizes-me do teu lado que não consegues dormir, imagino a confusão, a luta dos dois lados para adormecer...os dois a querer correr para a estrada à chuva, sem conseguir sair deste estado de confusão, de aperto, a roupa da cama enrola-se nos pés, parece demais, parece o casaco de forças, o corpo ressente-se em espasmos e reclama por outra coisa, reclama por alguém...pede-te, ordena-me o teu nome em vozes diabólicas, eu entro em febre e ardo, queimo o teu nome na testa, grito e peço que venhas rápido, mais rápido, ainda mais que isso, do nada...aparece-me agora...! A almofada é uma máscara que eu de forma paranóica julgo, me vai engolir a cabeça, sugar os meus sonhos, prender a minha imaginação, tirar-me todo o prazer de te querer, vai tornar-me racional, robótico e sem sentimentos, vou ser uma máquina que se consome a si mesma em dor? Não vou, não quero, não será assim! Sou eu! Sou eu! Grito e esperneio contra o mundo, contra a escuridão...tento em vão alcançar a luz que agora está longe, é tudo o que me resta, mas não está lá, os cobertores enrolam-se em mim como se me enterrasse em areia movediça, prendem-me e eu já não tenho força para gritar, para chorar, para ser infeliz...só grito pelo teu nome, espero que ouças, que venhas...!
Tiro a almofada debaixo da cabeça e atiro contra os fantasmas, morram, desapareçam,não sejam mais do que isso mesmo, fantasmas, alucinações, extinção, supressão e aniquilação! Fantasmas e paranóias, sejam mais do que aquilo que vos peço, sejam zero e pó, vento vos leve e me traga por favor a calma...a almofada atinge-vos e tudo cai por terra...silêncio dos ponteiros do relógio, marca-se o tempo e eu não adormeci.
Pouso a cabeça na cama, lembro-me do que disseste e sorrio, estás aí...eu sei que estás. Dorme comigo hoje, ainda que distantes, camas diferentes e escuridões diferentes...mas dorme comigo hoje.
Tenho tanto medo de não conseguir adormecer...

*Post Publicado Devido ao Grau de Insónia ser particularmente Grande!*
*Escrito ao som de Radiohead - Street Spirit (Fade Out)

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Chegadas e Partidas

Fecho os olhos e deixo as coisas andarem, por si mesmas, sou um corpo inerte que se movimenta dentro de um gigante, que come e digere metros em segundos, sou uma alma num comboio de almas perdidas, sou perdição sem destino, rumo ao cais na névoa, a estação final. Imagino mil e uma maneiras de chegar, de abrir os braços quando descer o último degrau, na forma como tu poderás estar a sorrir...
Chego-me à frente no meu lugar, só para por instantes poder imaginar que estou mais perto de ti do que estava há 1 segundo atrás, estou efectivamente mílimetros mais perto de te abraçar, recuo e sinto-me distante, encosto-me e penso em ti à espera. Quero chegar e poder abraçar-te como se o mundo acabasse amanhã, quero terminar a minha viagem aqui e em mais nenhum lado, quero procurar-te entre as centenas de pessoas que vão sair aqui, quero correr para ti e ver-te a correr para mim, como se tivessem passado 23 anos de ausência um do outro, como se todas as viagens que já tivessemos feito, valessem a pena só por este momento...Desejo só que nesse momento, ainda que não te fosse possível, me digas que tiveste saudades minhas, mesmo que eu nunca tivesse aparecido antes, que eu fiz falta naquele e outro momento...e vou querer dizer-te que nunca mais chegava a altura de te poder abraçar, de te tocar, de te sentir mais perto.
Mas o caminho é longo e é preciso saber aproveitar todos os bocados da viagem, porque tu vens no teu comboio em direcção ao meu, podemos passar um ao lado do outro e nunca mais nos vermos, mas ambos caminhamos para o lugar certo, aquela busca...
Se eu chegar antes, largo as malas, largo a vida, largo tudo o que vier comigo, empurro gente e tudo o que me aparecer, corro sem parar para te ir esperar, para seres tu a descer e eu a apanhar-te naquele momento, sem que o nevoeiro me leve para um sítio estranho e lá estarei, nos teus sonhos ou na tua realidade, só à espera de ver o teu sorriso aparecer pelo meio da multidão, para te ouvir dizer olá e sentir a necessidade de dizer um olá enorme, um olá prolongado nos teus lábios, um olá que dirá o quanto precisava daquele momento e dos teus braços a amparar-me.
O sol brilha na janela e eu quase que te consigo ver, assim ainda ao longe, mas já sonho com a tua ternura, já sonho...nunca parei de sonhar...nunca quis parar, só quis mais alguém que sonhasse, em vez de pinturas negras da vida e pesadelos, sonha comigo...se vivermos num sonho, podemos deixar de sonhar um com o outro e passar a ter um ao outro, na estação, na praia, ao sol ou à chuva, no nevoeiro ou na confusão de uma noite sem vento a soprar.
Quem chegará primeiro à loucura de perder a cabeça, esperar o outro ao seu comboio e por mais nada, senão mesmo pelo amor, dirá: "ainda bem que vieste...".

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Escrevia...amo-te

Mais uma vez, com as palavras como armas e os sentimentos enquanto força, Gonçalo e Chilita num post a meias. Enjoy


Escrevia qualquer coisa que fizesse sentido ao coração e entregava aos teus olhos, deixava-me ficar por um bocado a pensar o que tu estarias a sentir naquele momento, encostavas os olhos ao coração e lias....deixavas o silêncio transbordar desde o papel até aos teus lábios quietos...eu desesperava por uma palavra tua, dizias que não sabias o que dizer, como se as palavras te roubassem a fala, se fosse possível que todas elas te tirassem as palavras feias da boca, as que não gosto de ouvir, as mais complicadas de receber e encaixar num amor que foi só teu, todo teu...pensado em ti, que se iluminava com o teu sorriso e adormecia com o mesmo sorriso no pensamento.
Também tinhas o dom de te exceder quando querias, sabias mesmo perpetuar as situações à tua maneira, com as coisas que fazias e deixavas marcadas em mim, talvez seja isso que me faz estar constantemente a pensar em ti, as tuas marcas em mim, a forma como naturalmente e de uma forma que só as coisas mais puras podem fazer, ficaste debaixo da minha pele, não foste algo que se agarrou...passaste a barreira do que se agarra e se tatua em nós. Eras tudo aquilo que estava por baixo do que se vê, a força, a vontade de andar para a frente, o calor e a necessidade quase instintiva de amar, ser-se amado e saber viver com um sorriso durante os dias.
Mas um dia o mundo desaba em cima de nós, tão rápido como tudo começa de um momento para o outro, tão rápido e intenso quanto um primeiro beijo que fica eternamente ligado a duas pessoas, veloz e impossível de deter, o mundo vem cair em cima de nós e não pede licença, não dá espaço para fugir ao seu impacto...porque o mundo que se constrói é aquele que se destrói...ficam as imagens, os sons, os cheiros, o toque, a sensação de que se fez algo eterno, com a pressa dos momentos instantâneos, a memória guardará a eternidade do amor, os sorrisos, as vozes, os segredos e olhares que se fixaram...sem necessidade de mais nada....porque estava tudo ali.
Estava ali… Mas… de vez em quando voava. Voava para longe e quando eu tentava perseguir o amor, não o apanhava. Como poderia perseguir o amor, se apenas ele me dava asas? Mas… quando todas as esperanças pareciam perdidas, esse amor voltava para mim e fazia-me voar outra vez. Eu embalado e inebriado, com aquele turbilhão de sons, cheiros e sorrisos, que eram memórias e uma busca constante na realidade, deixava-me ir naquelas asas e ficava cego, perdido sozinho no escuro à tua procura, para apenas encontrar o meu amor por ti que tão depressa me elevava como me desiludia… Mata-me. Não vale viver a vida sem te ter aqui comigo… Não, não vale. É como os nossos jogos em crianças… Lembraste? Lembraste da maneira como choravas cada vez que eu te agarrava enquanto brincávamos à apanhada e da maneira como clamavas: “Não vale!”… Agora sou eu quem to digo amor… Não vale. Esta vida não vale sem ti. Não vale agarrar-te cada nova vez para apenas te perder a seguir. Não vale esta confusão de sentimentos dentro de mim que grita por ti e que te anseia e repudia ao mesmo tempo. Não vale morrer assim. Quero morrer nos teus braços, com todas as nossas memórias e com todo o sufoco que me provocas. Já sei como vou morrer. Vou morrer sufocado, engolido pelo amor que sinto por ti. Vou morrer nos teus braços e tu vais sorrir como um anjo pérfido da morte, vais sugar o meu sangue e fortalecer-te com ele… Porque é isso que tu fazer amor. Tu sugas a minha vida e alimentas-te dela porque sabes que te dá forças. Sabes que aquele amor que eu estou sempre a ganhar e a perder, aquele amor que persigo intensamente, te dá forças e te fez continuar… Sabes que esse amor me foge porque é teu, logo foge sempre para onde quer que tu vás… E eu, estúpido, acabo sempre por fugir com ele. De novo para ti. Porque cada vez que eu corro, corro para longe de ti e para perto de mim, mas eu amor, só existo onde tu existes…
Estou cansado disso. Estou cansado daquilo a que chamamos amor. Estou cansado da maneira irrefutável como sou teu. Estou cansado de tentar beijar outras mulheres, para apenas ver o teu rosto. Estou cansado de passar noites com outras mulheres, para apenas pronunciar o teu nome na manhã seguinte… Estou tão cansado amor… Apetece-me pousar a cabeça no teu colo e construir devagarinho de novo o nosso mundo… Vamos os dois de novo brincar. É fácil! Prometo-te que sim! Só não vale ires-te embora… Vamos fazer de conta que só existimos os dois na Terra, que somos Adão e Eva, Romeu e Julieta e vamos fazer de conta que nunca ninguém vai destruir o nosso amor… Que nunca nos vamos separar e que vamos ser felizes até ao fim da vida… Vamos sonhar amor! Vamos brincar como as crianças que fomos… Deixa-me deitar a cabeça no teu colo… Afaga-me o cabelo como apenas tu sabes fazer e sussurra-me ao ouvido palavras carinhosas e fantasiosas… Vamos ser felizes em sonhos…
Amo-te.

sábado, fevereiro 05, 2005

Take Me Away

How long will I keep this candid camera smile?
My muscles hurt, I better rest for a while
Breathing is the only thing that keeps alive
All this oxygen, crushes me, leaves me so tight
Let me out...

My pain is leading, I got no control from now
Don't try to help me, I don't want to put you down
All my reasons will be misunderstood,
I wish you well, in here there's nothing good

My heart is rotten with all the worst kind of disease
It tries to be better but all it can do is bleed
I'm so tired of myself
Oh God please take me away and bring someone else

One of my friends believes in what she reads
And she's always talking about the end of the century
But listen, have you ever stopped to realise
That if it happened there would be noone to feel alone?
No pain at all...

I should be going, so much damage I've done
So many tears and still alot more to come
Excuse, don't push my wheel chair
I don't want to go anywhere

My heart is rotten with all the worst kind of disease
It tries to be better but all it can do is bleed
I'm so tired of myself
Oh God please take me away and bring someone else

Alone, I don't care
And now all I remember is the smell of your hair

(Silence 4)